sexta-feira, 15 de junho de 2012

Socialis Uanitate


Reles sociedade,
que nos envolves e abraças
como um polvo nos braços das tuas mentiras.
Reles cultura,
que nos fazes ser quem não somos
enquanto nos sugas toda a essência inata.
À quem lhe chame crescer,
amadurecer,
eu chamo-lhe Retrocesso Mental,
prisão enlouquecedora da verdade.

Lá no Fundo.....


Não me reconheço,
Olho-me, e não me reconheço....
Oh tristeza, grande e profunda
Olho o espelho e não dou por mim.

Não me reconheço,
Falo, e não me ouço...
Oh mágoa, solta e desvairada
Falo e não ouço a minha voz.

Não me reconheço,
Sinto-me, mas não me chego a tocar...
Oh angustia, inquieta
Sinto, e não sinto que seja eu...

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Cansaço

 
O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço... 



Álvaro de Campos, in "Poemas"

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O Leão e o Porco

O rei dos animais, o rugidor leão,
Com o porco engraçou, não sei por que razão.
Quis empregá-lo bem para tirar-lhe a sorna
(A quem torpe nasceu nenhum enfeite adorna):
Deu-lhe alta dignidade, e rendas competentes,
Poder de despachar os brutos pretendentes,
De reprimir os maus, fazer aos bons justiça,
E assim cuidou vencer-lhe a natural preguiça;
Mas em vão, porque o porco é bom só para assar,
E a sua ocupação dormir, comer, fossar.
Notando-lhe a ignorância, o desmazelo, a incúria,
Soltavam contra ele injúria sobre injúria
Os outros animais, dizendo-lhe com ira:
«Ora o que o berço dá, somente a cova o tira!»
E ele, apenas grunhindo a vilipêndios tais,
Ficava muito enxuto. Atenção nisto, ó pais!
Dos filhos para o génio olhai com madureza;
Não há poder algum que mude a natureza:
Um porco há-de ser porco, inda que o rei dos bichos
O faça cortesão pelos seus vãos caprichos.

Bocage, in 'Fábulas'





EHEHEH...... Niguém diria melhor.....

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A Força do Presente


Fosse a tua vida três mil anos e até mesmo dez mil, lembra-te sempre que ninguém perde outra vida que aquela que lhe tocou viver e que só se vive aquela que se perde. Assim a mais longa e a mais curta vida se equivalem. O presente é igual para todos, e o que se perde é, por isso mesmo, igual, e o que se perde surge como a perda de um segundo. Com efeito, não é o passado ou o futuro que perdemos; como poderia alguém arrebatar-nos o que não temos?
Por isso toma sentido, a toda a hora, nestas duas coisas: primeiramente, que tudo, desde toda a eternidade, apresenta aspecto idêntico e passa pelos mesmos ciclos, e pouco importa assistir ao mesmo espectáculo em duzentos anos ou toda a eternidade; depois, que tanto perde o homem que morre carregado de anos como o que conta breves dias, consistindo a perda no momento presente; não se pode perder o que não se tem.

Marco Aurélio (Imperador Romano), in "Pensamentos"


      Como tal...... VIVE

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

que espécie de realidade é esta!?!?!? mt á frente, este Homem....

Ser Real quer Dizer não Estar Dentro de Mim  

Seja o que for que esteja no centro do Mundo,
Deu-me o mundo exterior por exemplo de Realidade,
E quando digo "isto é real", mesmo de um sentimento,
Vejo-o sem querer em um espaço qualquer exterior,
Vejo-o com uma visão qualquer fora e alheio a mim.

Ser real quer dizer não estar dentro de mim.
Da minha pessoa de dentro não tenho noção de realidade.
Sei que o mundo existe, mas não sei se existo.
Estou mais certo da existência da minha casa branca
Do que da existência interior do dono da casa branca.
Creio mais no meu corpo do que na minha alma,
Porque o meu corpo apresenta-se no meio da realidade.
Podendo ser visto por outros,
Podendo tocar em outros,
Podendo sentar-se e estar de pé,
Mas a minha alma só pode ser definida por termos de fora.
Existe para mim — nos momentos em que julgo que efectivamente existe —

Por um empréstimo da realidade exterior do Mundo

Se a alma é mais real
Que o mundo exterior como tu, filósofos, dizes,
Para que é que o mundo exterior me foi dado como tipo da realidade"

Se é mais certo eu sentir
Do que existir a cousa que sinto —
Para que sinto
E para que surge essa cousa independentemente de mim
Sem precisar de mim para existir,
E eu sempre ligado a mim-próprio, sempre pessoal e intransmissível?
Para que me movo com os outros
Em um mundo em que nos entendemos e onde coincidimos
Se por acaso esse mundo é o erro e eu é que estou certo?
Se o Mundo é um erro, é um erro de toda a gente.
E cada um de nós é o erro de cada um de nós apenas.
Cousa por cousa, o Mundo é mais certo.

Mas por que me interrogo, senão porque estou doente?
Nos dias certos; nos dias exteriores da minha vida,
Nos meus dias de perfeita lucidez natural,
Sinto sem sentir que sinto,
Vejo sem saber que vejo,
E nunca o Universo é tão real como então,
Nunca o Universo está (não é perto ou longe de mim.
Mas) tão sublimemente não-meu.

Quando digo "é evidente", quero acaso dizer "só eu é que o vejo"?
Quando digo "é verdade", quero acaso dizer "é minha opinião"?
Quando digo "ali está", quero acaso dizer "não está ali"?
E se isto é assim na vida, por que será diferente na filosofia?
Vivemos antes de filosofar, existimos antes de o sabermos,
E o primeiro fato merece ao menos a precedência e o culto.

Sim, antes de sermos interior somos exterior.
Por isso somos exterior essencialmente.

Dizes, filósofo doente, filósofo enfim, que isto é materialismo.
Mas isto como pode ser materialismo, se materialismo é uma ilosofia,
Se uma filosofia seria, pelo menos sendo minha, uma filosofia minha,
E isto nem sequer é meu, nem sequer sou eu?

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Felicidade, tão subjectiva e por vezes tão simples…

   Acho “graça” à incapacidade que a população, em geral, faz para obter tal sentimento e que na maior parte das vezes nunca é alcançada. Não por falta de vontade, mas sim, por falta de meios e principalmente por falta do conhecimento necessário para atingir tal fim. Não sabendo fórmulas nem receitas para tal valor/sentimento (o que lhe queiram chamar), aqui fica uma dica para quem tudo faz para ser feliz: honestidade.
   Este grande valor, que por estes tempos está completamente esquecido, torna tudo tão simples a ponto de se tornar Felicidade, ou seja, quando a verdade é dita e a acção assumida, o universo torna-se menos denso, transparecendo o que na verdade existe, por conseguinte teríamos um mundo mais verdadeiro, mais simples, logo, mais feliz.

   Não desdenhando de tudo o que possa contribuir para a felicidade de alguém, acho que o mundo em geral devia começar por falar a verdade, ou assumir aquilo pelo qual temos responsabilidade, não só para as pessoas que nos rodeiam, mas principalmente para nós mesmos, evitando uma das maiores forças de atrito á felicidade: a consciência.

   Despejando a nossa consciência de qualquer tipo de “tanga”, omissão ou mesmo assumindo tudo aquilo que temos para assumir, tornará assim a nosso consciência muito mais leve, a ponto de essa leveza se transformar em Felicidade.

   Se é verdade que o tema é velho, e sem assunto, pois então não obriguem as pessoas a terem que gramar com as vossas mentiras e pior, não se obriguem a gramar com as vossas próprias tangas.

IHIHIHIH